domingo, 20 de mayo de 2012


Depois da viagem,
foi necessário reescrever todos os caminhos.
Não havia mais volta. Eu estava perdida.
Já em Buenos Aires, uma ou outra chuva
tratava de desmanchar meus mapas,
(que eram, de todas as maneiras, nuvens):
era dobrar a esquina, Peru. Na outra, Paris.
Em Córdoba, o sol prestava esclarecimentos
sobre a nítida hora da sesta
aos que se perguntavam por que cartas
seladas só a partir das seis,
por que farmácias fechadas -
enquanto farmacêuticos e carteiros
pacientemente digeriam empanadas.
Uma lua minguante e um lucero.
A tarde tinha um fim turquesa
que assentava em Mendoza.
Vestido sem estampa,
anel de solitária pedra.
“Acá fui feliz”, escrevia nas janelas, no chão, nas paredes,
transtornada pela felicidade e pelo doce de leite.
Tinha números, é verdade.
Entrava numa cabine, discava, era certo:
vozes falavam do regresso.
Tinha fé no abraço.
Segui.
Nada permaneceu, nem permaneci.
Descobri a rua de meu nascimento,
inventei memórias,
que cada lembrança multiplicava.
A vida remota que aqui tive,
sem que minha pátria suspeitasse.
Não havia como não voltar.
Por isso parti.

Hice un largo viaje por Sudamérica. Salí de Salvador-Bahia-Brasil y empecé por la frontera con Argentina. Subí los Andes pasando por diferentes países, y después de ocho meses y medio, he vuelto a pisar Brasil y a escuchar el portugués en las calles. En la frontera de Brasil-Peru-Colombia, en la ciudad brasileña de Tabatinga, me pasa algo muy raro. Para mi surprisa, algunas personas creen que soy argentina y me preguntan cómo he aprendido el português.

Marília Palmeira

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